24 fevereiro 2015

Desespero

Infelizmente o abandono não tem idade, não é mesmo? Mas sigamos com a vida, chorem com o texto.

Desespero

Das noites frias em que nos aquecíamos com vinho,
Sobrou apenas o frio para aquecer minhas lembranças
E a saudade que fica das conversas ensaiadas,
Cada frase completando a outra, e assim por diante,

Agora bebo sozinho esse licor de solidão,
Falo para as paredes com esperança de ouvir resposta,
Louco dentro apenas daquilo que é normal
Fecho meus olhos, observo tua face – ponho-me a chorar,

A fogueira acesa tenta suprir a falta do teu calor,
E a sombra da cadeira que a luz da chama projeta
É a única companhia para a mão trêmula
Que tenciona escrever versos de dor e desamparo,

Mas não me basta todo esse sofrimento,
Quero gritos que possam preencher o teu lugar,
Quero que esse silêncio acabe!
Ele me faz lembrar do silêncio de nossa bocas unidas,

E o pensamento me caça por todos os cantos,
Não consigo fugir das nossas juras,
Que cortam fundo o meu peito
E me fazem sangrar,

Nem cigarros, nem bebidas, nem mesmo as palavras,
Nada me faz esquecer do teu perfume,
Nada pode devolver minhas noites sem dormir,
Nelas fiquei fumando, bebendo e escrevendo por ti,

Meus olhos estão vermelhos e molhados,
E de vez em quando para a janela voltam-se,
São eles as janelas velhas e quebradas,
De algo que algum dia foi minha alma.
J