14 outubro 2015

A História de Eustáquio (Capítulo 11 - Tudo Se Resolve)

Eustáquio corria o mais rápido que suas pernas permitiam, atrás dele, o monstro de várias cabeças.
- Se você quer saber, acho que o problema de ter tantas cabeças assim é saber qual delas manda - Filosofou Sombra (esse era o nome de última hora que Eustáquio deu para seu clone imaginário).
- Qual delas... você acha... q-que manda? - Ofegou Eustáquio.
- Bem, eu arriscaria a do meio. Mas a natureza não pode ser tão óbvia assim.
- Talvez cada uma pense por si - Eustáquio deslizou na areia e escondeu-se atrás de uma pedra. Não era um atleta nato, mas estava em forma.
- Eustáquio, seu gênio! É isso mesmo. Você só precisa colocar uma cabeça para brigar com a outra.
- Já ouviu a frase "Falar é mais fácil que fazer"? - A criatura se aproximou do esconderijo rochoso e pôs-se a vasculhar os arredores.
- Precisa falar na língua dela pra dar certo. O que essa coisinha entenderia?
Nesse momento a Necronéias soltou um grito estridente, havia avistado sua presa. Eustáquio correu entre as pernas da criatura e não parou até chegar ao paredão que o prendia na arena. E lá avistou o que seria a sua salvação. Um instrumento musical muito semelhante aos violões digitais que já havia tocado.
Na infância fora forçado a escolher algum "hobby", acabara por escolher a musica. Através de vídeo-aulas aprendeu a tocar uma variedade enorme de instrumentos, depois de certo tempo passar a gostar da coisa, porém era um prazer inútil. Inútil até aquele exato momento. O violão estava nos braços de um senhor que parecia criar no ato uma trilha sonora fúnebre para a futura morte de Eustáquio. O arqueólogo correu e usou a parede para ganhar impulso, agarrou e puxou o violão das mãos do idoso.
- Desculpe-me, senhor- Gritou em seguida.

A Necronéias estava se aproximando lentamente, havia perdido o rastro de sua presa.
- Criaturazinha burra, hein - Disse Sombra.
- Burra. Sim. Mas mortal - Eustáquio suavemente tocou algumas cordas do instrumento e sentiu sua vibração, não fora o suficiente para chamar a atenção do monstro.
- Sabe, uma vez eu ouvi histórias sobre um estilo musical engraçado. Os músicos se fantasiavam e tocavam como verdadeiros guerreiros flamejantes - Os dedos deslizavam pelas cordas e lentamente Eustáquio encontrou uma melodia em seu interior. Cantou:

Monster, I am humble
For tonight I understand
Your royal blood was never meant to decorate this sand
You suffered great injustice
so have thousands before you
I offer an apology, one long overdue


A criatura correu na direção de Eustáquio ao ouvir os primeiros acordes da canção, porém, impressionantemente ao deparar-se com melodia tão deprimente e espontânea ele fraquejou. Eustáquio aproveitou o tempo para prosseguir:

I am sorry
Monster, I am sorry
Hear my song
I know I sing the truth
Although we were breed to fight
I reach for kindness in your heart tonight

And if you can forgive, and if you can forgive
Love can truly live

Todos na arena ficaram em silêncio até a última nota da canção, observando a reação da Necronéias. Algumas cabeças pareciam ter sido seduzidas pela musica enquanto outras se lançavam na direção de Eustáquio. Logo a briga começou, cabeças cravando seus dentes nos pescoços de suas companheiras de corpo, sangue jorrando pelas feridas. Ao fim restaram apenas três cabeças feridas, porém inteiras. E a criatura curvou-se diante do único ali que compreendia sua dor. Eustáquio.
(Anos mais tarde Eustáquio descobriu que tanto a população do planeta quanto o monstro, não entenderam a letra de sua musica).