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* Oi Alexandre, tudo bem? É a Paula. Desculpa eu ter sumido esse tempo mas precisava resolver assuntos pendentes. Será que... podemos sair sábado para comer algo? Isso é meio estranho, nos conhecemos há tanto tempo e é a primeira vez que fico sem graça ao te chamar para sair... Bem, me liga assim que você receber o recado, ok? Beijos.
Desliguei a secretária eletrônica sem pensar na mensagem que acabara de ouvir. Não pensem mal a meu respeito, mas eu fico frustrado facilmente e convenhamos que semanas sem dar notícias é algo bem frustrante. Eu sempre soube que o ex-marido dela não havia assinado os papéis do divórcio, mas nunca perguntei os motivos. Bem, agora estava tudo claro. Já sabia o que ela iria dizer, que perder a amizade que construímos seria algo ruim mas que ainda amava o marido.
Tomei um remédio para a dor de cabeça que eu imaginei ter, como se pudesse transformar aquela situação em uma simples pontada na testa que sumiria com a medicação. Deitei-me no sofá e ali fiquei, adormeci e acordei horas depois, tomei água e voltei para o sofá onde novamente caí no sono.
Ah, essas batidas na porta são um saco!
~Toc-toc-toc~
Paaaara de bater! Será possível que um homem não pode dormir em paz?!
~Toc-toc-toc~
Levantei do sofá e fui até a porta, abri e disse o melhor "olá" que poderia dizer daquele jeito, com a cara amassada e o cabelo revoltado.
- Alexandre, você não retornou minha ligação... Que cara horrível é essa? - Sim, era ela. Paula.
- Paula? - Sim, era a Paula mas perguntei mesmo assim (só pra confirmar sabe)
- Podemos conversar? - Ela parecia impaciente.
- C-Claro...
- Então. Você vai me convidar para entrar ou não? - Ela estava desconfortável, eu estava desconfortável. Mas pelo menos ir até ali fora ideia dela, a culpa não era minha.
- Ah, sim. Desculpe. Por favor... - Abri totalmente a porta do apartamento e quando ela passou por mim, senti algo. Algo inexplicável. Era como se eu tivesse sido picado por uma cobra, senti um formigamento na minha perna.
Sentamos no sofá, ela fingiu não reparar que a sala estava uma zona. Dei tempo para que ela tomasse coragem.
- Nos últimos dias tenho pensado naquilo que você disse e, Alexandre, eu gosto muito de ti.
- E precisou de um retiro espiritual para perceber isso? - O que deu em mim? Eu estava sendo grosseiro com a mulher por quem era apaixonado!
- Não é isso, Alexandre. Eu precisava resolver alguns assuntos inacabados, saber de algumas coisas, confirmar outras. E...
- E agora você está aqui para me dizer que seu marido voltou e que estão dando uma nova chance para o casamento - Interrompi ela, não de maneira grosseira (não muito, ao menos) mas fui breve e claro.
- O que? Como assim? Onde você ouviu isso?
- Paula, eu estive no seu apartamento e ele abriu a porta quando eu toquei a campainha.
- Alexandre, não é isso - Ela estava rindo, provavelmente um riso de desespero, eu já tinha visto isso em um programa de televisão.
- Paula... tudo bem. Eu entendo, mesmo. Vocês dois já construíram uma história, um lar.
- Alexandre, para. Escuta. O Luiz foi até o meu apartamento para levar os papéis do divórcio, ele finalmente assinou e contou o motivo pelo qual fez isso: ele reencontrou um amigo do colégio e não entendi bem qual era a história deles, mas estão com o casamento marcado.
- É o quê?! - Não pude controlar, nesse momento a expressão "eu sou um completo idiota" transpassou a barreira do camuflável. Fiquei de boca aberta por alguns segundos tentando entender.
- O Luiz é gay! - Paula estava sorrindo quando segurou minha mão. E foi aí que a coisa desandou.
27 janeiro 2016
Crônica - Amor Moderno (Parte III)
27 janeiro 2016
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