05 março 2016

Crônica - Amor Moderno (Parte IV)

Gostaria de dizer que beijei a boca dela quando recebi aquela notícia, gostaria de dizer que passamos a noite enrolados um no outro. Mas nada disso aconteceu. Bem, na verdade nos beijamos uma vez, mas talvez as surpresas do momento tenham interferido no resultado.

A verdade é que ambos não sabíamos como proceder, gostar de alguém é fácil mas o que você faz com isso é que torna tudo complicado. Simplicidade não é algo que funciona quando uma situação envolve mais que uma pessoa, alguém sempre pensa demais, sente demais, quer demais.
Liguei para ela alguns dias depois, o fim de semana serviu para pensar (se ao menos eu soubesse sobre o que estava pensando).
- Oi, Paula, é o Alexandre. Eu queria saber se hoje podemos dar uma volta, depois do trabalho sabe. Como sempre fazíamos.
- Acho uma boa ideia, acho precisamos mesmo conversar - A voz dela parecia feliz, tão feliz quanto alguém consegue ficar logo no início do dia.
- Então, até lá.
- Até...
A ligação terminou mas o sorriso que apareceu no meu rosto decidiu acompanhar-me até o trabalho.
Passei o dia dando olhadelas para o celular, poderia chegar alguma mensagem cancelando o "compromisso", talvez ela mudasse de ideia. Mas não recebi mensagem alguma (claro que digo isso sem contabilizar as 10 mensagens que recebi da operadora de telefonia).
Saí do trabalho e caminhei até o escritório dela, meus passos eram irregulares e quase pensei que havia esquecido como se fazia aquilo. Terminei a grande batalha contra minha coordenação motora de uma criança de 3 anos e esperei na saída do prédio.
Enquanto observava a rua movimentada e a calçada com pessoas passando esporadicamente, duas mãos pousaram sobre meus olhos e instintivamente eu os fechei. Uma voz sussurrou:
- Adivinha quem é? - O sorriso novamente brotou no meu rosto.
- Scarlett Johansson, você fala português? - As mãos deslizaram e quando virei-me para vê-la, lá estava ela (A Paula, não a Scarlett. Essa ainda é uma história com um pouco de bom senso). Ambos estávamos sorrindo, apenas observando um ao outro.
- Pelo visto alguém está de bom humor hoje - Paula foi quem quebrou o silêncio.
- Pelo visto não sou o único.
Na minha cabeça aquela situação era romântica, era engraçada, transbordava amor. Não falamos sobre assuntos importantes, apenas caminhamos de mãos dadas.
Cada pessoa tem para si uma visão sobre o amor, para mim, estar apaixonado por aquela mulher me mudou para melhor. Eu poderia pintar um quadro com a exata cena daquela noite (acabei fazendo isso anos mais tarde, depois das aulas de pintura).
E esse, caro leitor, foi apenas o começo da história.

J