Senhoras e senhores, moças e rapazes, meninos e meninas. Sonhos de guerra volta hoje com um de seus primeiros trechos "baseado em fatos reais".
Inspirado na batalha de Ia Drang, que ocorreu em 1965 e que já foi retratada parcialmente no filme We Were Soldiers (Fomos Heróis na versão BR), estralado por Mel Gibson inclusive e é um filme bem baseado históricamente falando. Foi a primeira grande batalha de campo entre as forças armadas dos EUA e as tropas da FNL. Aqui apenas me inspirei nesse episódio para criar um grande conflito de campo, porém com os elementos semelhantes ao que ocorreram de verdade.
Boa leitura!
Magno
Dia 86 – 02/11/1967
Hoje
o Sargento Jack separou uma companhia (um grupo de cem soldados) do batalhão
para uma ofensiva em conjunto com a 5th e a 7th Cavalaria. Obviamente eu e o
Rick fomos selecionados, apesar de fazer pouco mais de um mês que estamos aqui,
nós somos alguns dos poucos que sobreviveram. Segundo o que nos foi passado na
“sala de reuniões” que não passava de uma tenda entre algumas árvores, vai ser
uma missão de tomada de pontos estratégicos. Pelo visto a inteligência do
exército descobriu um caminho que segue por dentro do Laos e do Camboja e seria
por onde as tropas do Vietnã do Norte estariam contrabandeando armas e
suprimentos para a FNL.
Dia 87 – 03/11/1967 [05:36]
Nunca
vi uma mobilização militar tão grande, estamos nos aproximando da região de
Plei Me, embora a emboscada que está sendo armada seja mais a noroeste. É uma
região serrana com uma floresta muito fechada e uma grande montanha, e a ideia
é que após essa operação seja montada uma pequena base no topo dessa montanha
para um melhor controle da região. Estamos sendo auxiliadas pela 1st Divisão da
Cavalaria Aérea (chamada de Airmobile) e pela 11th Divisão de Assalto Aéreo,
além da 5th e da 7th Cavalaria.
Dia 87 – 03/11/1967 [17:13]
Vim
pendurado na porta de um UH-1Huey, basicamente o helicóptero mais visto por
aqui, alguns pilotos até pintam dentes na sua dianteira, pois são muito
eficazes em assaltos a alvos terrestres, (porém, um alvo fácil para os caças)
tentando passar a ideia que são “tubarões dos ares”... Egos exaltados demais
para meu gosto e estou com uma puta mau pressentimento dessa operação. Vou me
preparar que logo os portões do inferno serão abertos.
Dia 88 – 04/11/1967 [16:44]
Curioso
como pode acontecer tanta merda em menos de 24 horas. Nós pousamos
aproximadamente as 10:48, o bombardeio já tinha sido iniciado. Seguindo ordens
do Capitão John Herren nós seguimos pelo vale até uma companhia capturar um
soldado da FNL vagando pela mata. Após um pouco de carinho com um alicate, ele
revelou que havia cerca de mil e seiscentos soldados do outro lado do vale
enquanto o nosso contingente em terra até aquele momento era de no máximo
duzentos homens. Demorou, mas até o meio dia reforços pousaram e nos preparamos
para a ofensiva. Começou quando uma patrulha se encontrou com alguns batalhões
inimigos e daí em diante só dava para escutar gritos, tiros e explosões. Embora
eu já estivesse acostumado, o cheiro de pólvora somado ao calor e aquele
ambiente onde você não conseguia distinguir seu inimigo de uma samambaia,
estava me deixando maluco. A pressão dos tiros resvalando ao meu redor só
cessou cerca de meia hora depois quando o Capitão Bob chegou ao flanco sul da
montanha e chamou suporte aéreo. As bombas findaram a vida de cerca de 150
vietnamitas em 10 minutos. Quando parou, a floresta parecia uma horrível versão
sangrenta de um pântano, só que ao invés de águas barrentas nós tínhamos sangue
misturado a restos de corpos, alguns deles de nossos soldados que estavam
próximos demais da área do bombardeio e não conseguiram fugir. Agora estamos em
uma espécie de trincheira cavada fora da área da floresta, o vale antes cheio
de vida, agora parece uma cachoeira de sangue.
Dia 88 – 04/11/1967 [19:32]
Os
bombardeios cessaram, montamos um esquema de vigília para que amanhã possamos
continuar lutando. Estamos no flanco norte da montanha e escutamos a todo o
momento sons de metralhadoras vindo do lado sul. Pelo visto a noite vai ser
longa para muitos de nós.