22 outubro 2015

A História de Eustáquio (Capítulo 11 - Enviado do Deus da Morte e Heavy Metal)

A plateia olhava Eustáquio num misto de exaltação, desconfiança, excitação e nervosismo. Logo um burburinho surgiu e se tornou uma turba descontrolada. Logo, irritada com o barulho que se sobrepunha à música, a todas as cabeças da Necronéias rugiram em protesto, o que se mostrou totalmente efetivo... E assustador, gradativamente a plateia foi se calando ou baixando o tom de voz até que o soprar do vento nas colunas da arena fosse ouvido.
Os conselheiros do rei logo se mexeram e correram ao soberano cochichar em seus ouvidos. Não demorou muito para que o mesmo parasse de alisar a espessa barba laranja-acobreada e se pusesse de pé. O público se voltou todo a ele, inclusive o monstro no meio da arena, esperando sábias palavras, porém o que ouviram foi diferente:
- Era pra esse bicho fazer isso? O quê? O microfone está ligado? - O rei se atrapalhou um pouco mas retomou a postura real - Bem, viajante do desconhecido, creio que se mostrou digno de viver... Apresente-se
Eustáquio fez o que sabia fazer de melhor, improvisou.
- Eu sou o enviado do deus da música... - Vendo que ninguém havia esboçado reação nenhuma, completou - E da MORTE! - O público foi a loucura, olhares amedrontados, crianças chorando, um verdadeiro pandemônio.
- SILÊNCIO! - Ordenou o Rei - E de que Deus tanto falas?
Eustáquio congelou, que nome inventaria? Não sabia nada sobre mitologia interestelar, olhou no instrumento que empunhava em mãos e procurou um nome.
- Hã... Gib-Gibson... Gibson o Deus da Morte e Heavy Metal!
O rei coçou a barba novamente não parecendo muito convencido, seus conselheiros a postos cochicharam em seu ouvido, Eustáquio tremia por debaixo do traje térmico - Bem, nunca ouvi falar de tal santidade, porém o Império Meteoryon abre as portas para toda e qualquer cultura que venha em seu auxílio. Pedimos perdão humildemente por nosso erro e o convidamos ao Palácio Real num banquete para que nos conte mais sobre sua cultura e nos redima com seu, hã, Deus.
O rei bateu as palmas e as grandes portas da arena se abriram. Os olhos de duas das cinco cabeças da Necronéias brilharam em angústia, Eustáquio, que agora se sentia ligado num elo de empatia com a criatura, sentiu seu coração mole pesar.
- Esperem, antes de tudo, hã, ainda estou bravo por ter sido incomodado e meu Deus comigo concorda. Acho que não lançaremos uma maldição brutal sobre o seu povo se o senhor puder me conceder dois desejos.
- Bem... Se é de uma maldição divina antiga que estamos falando, acho que posso ouvir seus desejos de bom grado.
Eustáquio parou de suar frio, quanto mais falava, mais sua auto-estima o empurrava aos holofotes.
- Primeiramente, gostaria que essa criatura, QUE É TOTALMENTE INOCENTE, fosse liberta de suas amarras aqui e levada ao seu local de origem, bem como outras quaisquer neste planeta com o mesmo propósito.
O rei interveio antes que Eustáquio pudesse falar do segundo pedido - Mas e quem vai comer os injustos e gladiadores perdedores? Quem vai cuidar do controle populacional e... - Eustáquio lhe dirigiu o olhar mais frívolo e irado que teve coragem de ousar dirigir, e o rei aos poucos foi baixando a voz e mudando o tom - Bem, nunca gostei mesmo desse tipo de espetáculo bizarro, considere feito. - Eustáquio notou o aborrecimento brotando nas sobrancelhas do soberano - E o segundo pedido?
Eustáquio engoliu em seco e não se demorou - Gostaria que sua terceira filha me mostrasse o lugar antes do banquete.
- COMO DISSE?