Senhoras e senhores, moças e rapazes, humanos ou não. Hoje lhes trago o começo de Sonhos de Guerra, O diário de um jovem soldado que parte para o Vietnã e começa a enxergar a vida com outros olhos.
Espero que apreciem a leitura. A escrita demandou muita pesquisa. As cidades, batalhões do exército e alguns eventos ocorreram de verdade, porém, a história contada é fantasiosa e não corresponde com a realidade (será?).
Magno
Dia 1 -18/08/1967
Completei 22 anos semana passada, minha mãe não queria que
eu me alistasse aos 20, mas agora que finalmente passei da idade mínima eu
posso me alistar. Vou passar um mês em Camp Pendleton para treinamento, o que
significa que terei de viajar cerca de 570 milhas de ônibus, mas serei treinado
por Fuzileiros!!! Não sei bem o que me aguarda lá, mas estou ansioso, afinal de
contas eles são feras no que fazem. Também tenho minhas dúvidas de como vai ser
no Vietnã, mas estou ansioso para servir meu país assim como meu avô, que foi
sargento da 7th Cavalaria e lutou na Revolta dos Boxers. Decidi anotar tudo o
que vai acontecer de agora em diante para me manter em juízo perfeito, ouvi
boatos de que alguns soldados de Healdsburg retornaram com quadros de depressão
e psicopatia.
Dia 3 – 20/08/1967
A
Viagem foi como imaginei: Longa e tediosa. A única vista “nova” foi Los
Angeles... Que cidade incrível, com toda a sua imponência em meio a plantações
de algodão e uva (embora tenha um dos
vinhos mais gostosos e baratos que já provei), imigrantes mexicanos e atores desempregados. Quem sabe quando acabar
essa guerra eu arranje uma garota e me mande para lá. Ocorreu até um pequeno
protesto de um grupo de hippies contra o presidente Johnson em frente ao meu
hotel. É difícil concordar com um bando de chapados, parece que não percebem
que o Vietnã do Norte é uma ameaça ao nosso país, isso aparece na TV o tempo todo.
Dia 4 – 21/08/1967
Recebi
as primeiras instruções de como funciona a base e tive meu cabelo raspado, como
todos os outros recrutas... Por que isso? Senti como se minha individualidade
tivesse ido pro saco... Como se fosse só mais um... Nunca senti algo assim, nem
mesmo no colégio quando era obrigado a usar aquela porcaria de uniforme. De
qualquer maneira eram ordens e eu tinha que obedecer, vou fazer o que for preciso.
Dia 13 – 30/08/1967
É incrivelmente difícil escrever aqui em Camp
Pendleton, quando terminar eu vou escrever um resumo...
Dia 34 – 20/09/1967
Cada
segundo desse treinamento maldito valeu a pena, fui aprovado e daqui quatro
dias embarco para a base de Saigon. Foram dias difíceis se arrastando na lama,
levando cuspidas de oficiais superiores e disputando comida com cachorros. Indo
dormir as duas para acordar ás cinco da manhã. Inúmeros treinos de tiro (não imaginava que o coice de uma metralhadora era tão
forte... Quase deslocou meu ombro! Preciso descobrir uma maneira de firmar a
arma sem perder a mobilidade). Os alojamentos
eram simples e não tive muitos problemas com outros recrutas, só alguns brutamontes que curtiam tirar sarro com os mais novos, todo mundo era obrigado
a permanecer em ordem, qualquer brincadeira pega por um oficial e poderíamos até ser presos por
descumprir ordens. Pelo menos acabou e agora tenho uns dias de descanso antes de ir
para Saigon.
Dia 35 – 21/09/1967
Despedi-me
de meus familiares hoje, a maioria não está contente com a ideia de que eu vá
para a guerra, acho que eles não enxergam a honra que eu estou recebendo, vou poder defender meu país contra esses terroristas. Briguei com minha mãe ontem por conta disso, eu não queria ir embora assim, mas
preciso que ela aceite. Estou cada vez mais ansioso, sinto a adrenalina
queimando em meu corpo, parece que vou sair voando com toda essa energia. Mas confesso sentirei muita falta de meus amigos, eles também tentaram me fazer desistir disso, mas sabem que quando quero algo eu vou até o fim. Também vou sentir falta dos meus pertences, minhas revistas, meus discos.
Mas agora não tem mais volta, pelo menos não até acabar a guerra... ou o pior
acontecer...
Dia 37 – 23/09/1967
Um veículo do exército veio me buscar, vamos num voo militar saindo de San Francisco, ele vai fazer escala no Hawaii para reabastecer e ai segue direto para o Vietnã. Minha mãe não se despediu, no momento que entrei no carro consegui ve-lâ na janela do meu quarto... Parecia estar chorando. Acho que nunca vou me esquecer da imagem dela lá...
Um veículo do exército veio me buscar, vamos num voo militar saindo de San Francisco, ele vai fazer escala no Hawaii para reabastecer e ai segue direto para o Vietnã. Minha mãe não se despediu, no momento que entrei no carro consegui ve-lâ na janela do meu quarto... Parecia estar chorando. Acho que nunca vou me esquecer da imagem dela lá...
Dia 37 – 23/09/1967 - 20:30
Que
Porcaria de voo demorado! Confesso que gosto de voar, mas estou muito ansioso, eu quero ir logo para a batalha! A cada momento que
passa sinto-me mais e mais disposto a enfrentar... A enfrentar... Agora parei
para pensar, o que estamos enfrentando mesmo? O Presidente e os líderes do exército dizem que temos que conter o avanço comunista no Vietnã, mas o que nós temos a
ver com aquele país de nada? De toda
Dia 39 – 25/09/1967
Cheguei
hoje pela manhã na base de Saigon, no momento em que cheguei já notei bruscas
diferenças. Pra começar a temperatura aqui é absurdamente elevada, estava
marcando quase 90 Fahrenheit as 10:00 da manhã!! (Cerca de 32 graus celsius - NdA) Eu fui para o alojamento e
recebi meu uniforme. No avião conheci Rick Fontera, um cara de St. Helena que
passou por uma situação semelhante a minha para conseguir se alistar, estamos
ficando um perto do outro pra caso ocorra alguma coisa a gente tenha em quem
confiar. A única coisa familiar que vi por aqui (além das velhas expressões
sérias dos militares) foi que pela manhã, todos param para escutar um programa
na rádio.
Dia 49 – 26/09/1967
É no mínimo curioso ver a base aérea de Tan Son Nhut AB, principal base americana
que fica próxima a Saigon, se eu não soubesse que eu estou no meio de uma
guerra, diria que isso é uma colônia de férias, com diversos soldados em
barracas fazendo churrasco e escutando Creedence em seus radinhos. Um tenente, após
reconhecer meu sobrenome por causa do meu avô (já falei que o velho realmente
fez história) me ofereceu um quarto fechado, com cama, bebidas, e se precisasse
até prostitutas ele arrumava. Além de álcool, cigarros e outras drogas por
cerca de US$400,00. O que me deixou confuso: Afinal, onde ele pensa que nós
estamos? Quem ele pensa que é para agir como um gigolô no meio desse inferno?
Não aceitei, agora durmo no chão de uma simples e fria barraca perto da pista
de pouso. Vendo isso confesso que cogitei a ideia de voltar lá...
Dia 53 – 30/09/1967
Nos
últimos dias passei por incessantes treinamentos físicos e táticos, recebi junto de
alguns informes da cultura local uma pistola Colt 1911.45 e um fuzil Colt M16
5.56mm. O Sargento Jack me elogiou, apesar de ele tratar todos os soldados como
cachorros. Amanhã vamos para Dalat patrulhar as redondezas. Eu e Rick estamos
no 5th Regimento de Fuzileiros, um dos destacamentos que mais participa dos combates. Logo saberei se isso é bom ou ruim.
Dia 55 – 02/10/1967
Não
possuo a capacidade física nem mental de escrever algo hoje. O que tinha de
merda para acontecer, aconteceu. Vou beber com os que sobraram...